sexta-feira, 2 de maio de 2008

O Acordo (?) Ortográfico

O Homem sempre sentiu vontade de evoluir, de mudar, de modernizar. É admirável essa faceta do ser humano, e foi esse espírito que ajudou a transformar muitas coisas e a criar outras, juntamente com o “bichinho” da curiosidade. A mudança sempre teve um fim, um objectivo, um problema que ao parecer impossível de resolver o tornava num desafio aliciante.

Há, contudo, situações em que não há fins ou objectivos claros, muda-se para se poder dizer “Foi mudado! É novo!”. É prestigiante dizer que se mudou, que não se é estático, que se é moderno. Mesmo que não haja um motivo válido para se efectuar tal mudança.

Portugal, em muitas vezes, é campeão nestas mudanças sem necessidade, nestas viragens repentinas porque é moderno. E quem não concorda com as mudanças ou expressa a sua insatisfação, é conservador, é antiquado, é do contra, é acusado de ser responsável por não termos um pais tão moderno como poderia ser.

Tudo isto a propósito, como já se poderia antever pelo título, a propósito das mudanças que querem fazer à ortografia portuguesa. Chamaram-lhe Acordo Ortográfico, mas o nome deixa muito a desejar. Como se viu nos últimos tempos, muitas foram as pessoas em desacordo com este suposto acordo. Escritores, jornalistas, professores, e muitas pessoas já mostraram o seu desagrado face ao que se quer fazer à língua portuguesa.

Aproximar a escrita à oralidade, aproximar os povos falantes de português. Estes são os argumentos de quem defende a mudança ortográfica. À parte das enormes queixas e manifestações feitas pelos portugueses pelas colossais dificuldades que sentem a escrever português, não vislumbro qual a necessidade de celebrar o suposto acordo. Mas afinal também já não se escreve “pharmacia”, por isso, porque não?

Chegando à parte do aproximar os povos falantes do português talvez já se comece a descortinar razões menos declaradas para mudar. A vontade de aproximar os povos e tornar o português uma língua mais forte no mundo são propósitos nobres. Contudo, não parecem ser verdadeiramente reais quando nos apercebemos que há palavras com várias hipóteses de escrita, quando obviamente não são incluídas várias palavras do português falado no continente africano ou quando as diferenças com o português do Brasil são as mais assinaladas.

A mudança ortográfica parece ser do maior interesse para quem mais trabalha com a matéria-prima, ou seja, as palavras: editoras, livreiros… Porque afinal de contas, se se escrever igual aqui como no Brasil, será muito melhor para colocar produções nacionais no Brasil cá e vice-versa, sem grandes incómodos. Que bom será quando finalmente pudermos ter acesso a livros com a etiqueta na capa “já conforme o novo acordo ortográfico”, para depois quando tivermos dúvidas podermos consultar os já disponíveis novos dicionários. Mais trabalho mesmo, só para os professores, pois os alunos passarão a não precisar de ter cuidado ao copiarem coisas da Internet em português do Brasil…

Parece ainda que o Brasil tem um pouquinho mais que os nossos 10 milhões de habitantes; sempre é um mercado com maiores dimensões. Também, se já nos subjugamos a várias vontades devido à nossa pequenez, porque não abrir a mão de algum património cultural? Olhem que é um ó(p)timo acordo…

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